Ônibus estão 22% mais rápidos nas faixas exclusivas da av. 23 de Maio

Por Marcelo Leite

Se alguém tinha dúvidas sobre a eficiência das faixas exclusivas de ônibus do corredor norte-sul (que inclui a avenida 23 de Maio), não devem ser os passageiros das linhas que ali trafegam.

Dados de GPS de mais de 145 mil viagens comprovam que houve 21,7% de ganho de velocidade na hora do rush com as novas pistas.

A conta foi feita pelo Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), uma ONG de pesquisa paulistana, a partir de dados da prefeitura.

É a primeira avaliação independente sobre o tema –até então, os números divulgados eram balanços feitos pela gestão Fernando Haddad (PT) e indicavam aumentos de velocidade de até 45% na cidade toda.

O estudo comparou dias úteis em duas semanas dos meses de setembro de 2012 e setembro de 2013, antes e depois de criadas as faixas. Foram analisadas as informações do GPS da frota de linhas que percorrem pelo menos 1 km dentro das faixas.

A promessa da gestão era implantar 150 km em quatro anos, mas, depois das manifestações de junho, a meta foi aumentada e antecipada –a prefeitura criou 300 km de faixas logo no primeiro ano e mais 53 km em 2014.

Segundo o estudo do Iema, o maior ganho ocorreu no pico da tarde, em que a velocidade média das 37 linhas analisadas passou de 13,6 para 16,6 km/h –ganho de 22,1%. De manhã, a alta foi de 17,7%– 14,1 para 16,9 km/h.

Apesar do avanço, os valores ainda estão longe da meta da gestão, de chegar aos 25 km/h em toda a cidade. Na classificação da própria prefeitura, velocidades até 20 km/h são "moderadas".

As faixas à direita foram escolhidas pela prefeitura pela rapidez de implantação e pelos efeitos mais imediatos –a gestão defende que a velocidade maior pode atrair mais gente ao transporte público.

Críticos citam que o número de passageiros, porém, se mantém no mesmo patamar, que os congestionamentos aumentaram e que as faixas são solução provisória, ao contrário dos corredores de ônibus à esquerda das vias.

O plano da gestão é fazer 150 km de corredores, mas parte das obras atrasou porque a licitação foi barrada pelo TCM (Tribunal de Contas do Município).

Tempo

O aumento de velocidade permitiu uma redução total de 252 horas de percurso, a cada dia, segundo o Iema.

Em média, o tempo gasto para percorrer o mesmo trecho caiu de 19,4 para 15,8 minutos com as faixas, uma redução de 18,4%.

Apenas uma das 37 linhas (5013-10, Jardim Luso-Santo Amaro) teve perda de velocidade. "Uma hipótese é o elevado tempo semafórico para acesso à avenida Interlagos", diz André Luis Ferreira, presidente do Iema. "A rigor, ainda não temos explicação segura quanto ao que ocorreu."

Os dados do estudo foram processados pelos pesquisadores Hellem Miranda, David Tsai e Julio Caldeira.

Trechos

O incremento de velocidade dos ônibus no corredor norte-sul, contudo, não foi homogêneo nos 23 km de faixas exclusivas.

O estudo analisou oito trechos distintos e verificou que a melhora mais acentuada, em torno de 30%, se deu entre a ponte das Bandeiras e o Anhangabaú.

As maiores velocidades médias, porém, são alcançadas nos trechos da av. 23 de Maio propriamente dita. Nessa via expressa, sem semáforos, a maior parte das linhas trafega com velocidades médias entre 20 e 25 km/h.

O Iema espera que sua análise subsidie a formulação dos planos de mobilidade que as grandes cidades precisam apresentar até o começo do ano que vem, por força de uma lei federal de 2012.

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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