Em Cidade Tiradentes, 91% estão livres do imposto; em Moema, na zona sul, só 4%.
Por Artur Rodrigues e Giba Bergamim Jr.
Em meio à profusão de prédios da Cohab, a autônoma Raimunda Simão, 54, é uma entre milhares de moradoras de Cidade Tiradentes (zona leste de SP), que não paga IPTU — nove em cada dez ali estão livres do imposto.
Distante 45 km do centro, o distrito concentra imóveis com baixo valor e, por isso, é recordista em isenção.
O oposto está em Moema, bairro da zona sul, com o menor índice –4% não pagam.
Os dados da prefeitura representam o percentual de isentos previstos para o ano que vem, quando o IPTU será reajustado em até 15% para imóveis residenciais e até 30% para comerciais.
"Tiradentes melhorou, com mais ônibus, supermercados e um hospital. Mas falta indústria para a gente ter emprego", disse Raimunda, moradora há 20 anos.
Moradores do bairro dormitório enfrentam um périplo diário em direção ao trabalho, nas áreas centrais.
"A gente já paga tanto imposto. Não poderia pagar outro", afirmou Olindina Braga Benevides, 28, que perdeu seu emprego há quatro meses. "Eram duas horas todos os dias até o centro", disse.
O cabeleireiro Altamir Gonzalez Martinez, 49, é isento do IPTU tanto de seu apartamento quanto da sala comercial que aluga por R$ 450.
"O bairro é afastado e poucos aqui têm renda suficiente para pagar IPTU", afirmou.
Do outro lado da cidade, o morador de uma casa térrea em Moema, Luiz Cunha, 65, espera aumento do imposto.
"Pago R$ 2.000 por ano, fora o aluguel. Com salário mínimo de aposentadoria, imagine o quanto pesa", disse. Há em Moema, porém, quem considere o aumento justo.
"Moro num apartamento bem localizado. O valor [cerca de R$ 800] está defasado", disse o também aposentado Paulo Barreto, 65.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo