Por Andre Monteiro
O número de acidentes de trânsito com mortes cresceu menos nas avenidas paulistanas que tiveram o limite de velocidade reduzido.
A melhora da segurança é o principal argumento apresentado pela gestão Fernando Haddad (PT) para justificar a decisão de baixar a velocidade máxima das marginais Tietê e Pinheiros.
Desde a última segunda (20), quando os limites caíram de 90 km/h para 70 km/h na pista expressa, de 70 km/h para 60 km/h na central e de 70 km/h para 50 km/h na local, o assunto acirrou os ânimos dos motoristas.
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) entrou na Justiça contra as novas regras.
Dados do relatório anual de acidentes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) apontam que, no conjunto das 50 vias mais perigosas de São Paulo, os acidentes tiveram um aumento de 10% nos últimos cinco anos.
O número inclui ocorrências como atropelamentos e batidas com ao menos uma vítima morta.
O crescimento desses acidentes, porém, foi menor nas 29 vias da lista que tiveram o limite de velocidade reduzido entre 2010 e 2012.
No total dessas avenidas, o aumento dos acidentes de 2010 para 2014 foi de 7%. Nas outras 21, o índice subiu 15%.
O programa, implantado na gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), alterou os limites de cerca de 600 km da cidade. Vias como a avenida 23 de Maio tiveram a máxima reduzida de 80 km/h para 70 km/h. Em outras, como na avenida do Estado, o limite foi de 70 km/h para 60 km/h.
AS 50 VIAS MAIS PERIGOSAS DE SP (ACIDENTES FATAIS)
Vias que tiveram redução de velocidade
2010 – 226 acidentes
2014 – 241 acidentes
7% de aumento
Exemplos:
– Avenida Cruzeiro do Sul
– Estrada de Itapecerica
– Avenida Aricanduva
Vias que não tiveram redução de velocidade
2010 – 161
2014 – 185
15% de aumento
Exemplos:
> Marginais Tietê e Pinheiros
> Avenida Sapopemba
> Av. Carlos Caldeira Filho
Fonte: Relatório Anual de Acidentes de Trânsito Fatais – CET (2014)
Na divulgação das novas velocidades nas marginais, a prefeitura apresentou estudo que também avaliou os resultados desse projeto.
Técnicos da CET tabularam dados de 230 km de vias arteriais –88 avenidas– que ganharam nova velocidade entre abril e outubro de 2011.
O trabalho mostrou que os atropelamentos nesses locais caíram 19% na comparação de um ano antes com três anos depois do programa.
No eixo das avenidas Luiz Dumont Villares e Tiradentes, a queda chegou a 44%.
"Para um pedestre ou ciclista atropelado, reduzir a velocidade é a diferença entre a vida e a morte", afirma José Aurélio Ramalho, presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária.
A diminuição dos limites tem a aprovação majoritária de especialistas em trânsito –embora parte deles avalie que ela foi mais drástica do que seria necessário.
Para o engenheiro de tráfego Sergio Ejzenberg, a medida "ignora o padrão indicado pelo código de trânsito, que é de 80 km/h para vias de trânsito rápido. Não é razoável, nem seguro, dirigir no trânsito urbano caçando placa de regulamentação".
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo