Assistimos no Brasil a uma exarcebação da luta pelo poder dos partidos políticos, inflamada pelo agressivo processo eleitoral de 2014
O principal objetivo dos partidos políticos é o alcance e a permanência no poder. Quem tem um mínimo de conhecimento sabe disso. Quando na oposição, torcem para o governo dar errado para poderem ganhar as próximas eleições.
Quando no poder, não incorporam as propostas da oposição, deixam vir ao público apenas dados positivos e escondem informações negativas, o que retarda e até impede o enfrentamento dos problemas. É uma lógica não exclusiva dos partidos políticos brasileiros, mas praticamente de todas as democracias.
Nos Estados Unidos, o Partido Republicano procura dificultar ao máximo o governo Barack Obama e, na Europa, os partidos de direita tentam de toda forma obstaculizar os governos de esquerda, e vice-versa.
Evidentemente a generalização não contempla as raras e honrosas exceções. O que tempera essa lógica perversa é a ação da sociedade civil quando procura colocar os interesses públicos acima dos interesses de poder dos partidos políticos.
Assistimos no Brasil a uma exacerbação da luta pelo poder dos partidos, inflamada pelo agressivo e até selvagem recente processo eleitoral e pelas revelações da Operação Lava Jato. À luta pelo poder usual somou-se a luta pela sobrevivência do governo e de líderes parlamentares.
Tudo isso numa delicadíssima conjuntura econômica em que está em jogo o emprego e a renda de milhões de brasileiros e em que o enfrentamento dos problemas exigiria uma forte unidade política.
Enquanto a crise se agrava –inflação e desemprego em alta, atividade econômica estagnando–, governo e oposição, Executivo e Legislativo, engalfinham-se numa luta sangrenta pelo poder e pela sobrevivência, dificultando tomar medidas necessárias para tirar o país deste atoleiro. E o Brasil, como fica?
Temos, no país, milhões de empresas e empresários que não estão envolvidas na Operação Lava Jato e que não financiam campanhas políticas -segundo levantamento feito pelo Instituto Ethos, apenas 1% das empresas financiam campanhas políticas-, centenas de sindicatos, organizações e lideranças da sociedade civil sem rabo preso ou dependência de partidos e milhares de políticos que não estão metidos em falcatruas.
Não há uma lista de políticos que não roubam, seus nomes não aparecem. Essas lideranças e organizações devem e podem se juntar para agir em prol do interesse nacional.
É de interesse nacional que os infratores, malfeitores e criminosos sejam punidos. É muito importante para o progresso, como nação civilizada, que a justiça seja exercida na sua plenitude e para todos.
É de interesse nacional que o país tenha um desenvolvimento sustentável, com baixa inflação, gerando empregos, renda e qualidade de vida a todos. Para isso é fundamental contornar a crise econômica.
Medidas importantes precisam ser tomadas, à altura da gravidade da situação. É necessário e urgente que as lideranças nacionais, independentes de partidos, exerçam seu poder para que os interesses do país prevaleçam sobre a luta pelo poder.
ODED GRAJEW, 71, é coordenador geral da Rede Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto Ethos. É idealizador do Fórum Social Mundial e idealizador. Foi presidente da Fundação Abrinq e assessor especial do presidente da República em 2003 (governo Lula)
Artigo publidado no espaço Tendências / Debates da Folha de S. Paulo.