Doria nomeia aliados de vereadores como chefes em prefeituras regionais

GIBA BERGAMIM JR. E ARTUR RODRIGUES, DE SÃO PAULO, E EDUARDO SCOLESE, EDITOR DE "COTIDIANO" – FOLHA DE S. PAULO

Após levantar bandeira contra o loteamento partidário na administração, o prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) já nomeia indicados políticos de vereadores e filiados a partidos de sua futura base de apoio em cargos nas prefeituras regionais (antigas subprefeituras).

Pelo menos 17 de 20 chefes de gabinetes dessas regionais publicados no "Diário Oficial" da cidade desta semana são ex-assessores parlamentares, filiados ou antigos apoiadores de campanha de partidos como DEM, PR, PHS, PPS, PP, PTN, PMDB e PSD –estes dois últimos adversários de Doria nas eleições na chapa que teve Marta Suplicy (PMDB) à prefeita e Andrea Matarazzo (PSD) como vice. Ambas as legendas farão parte da base de apoio do tucano durante o mandato.

Redutos eleitorais, as antigas subprefeituras sofrem forte influência de políticos que ocupam cadeiras no Legislativo paulistano. Doria assumiu a cidade com o compromisso de colocar em sua equipe pessoas com ficha limpa, experiência administrativa, curso superior e vínculos com a comunidade –de preferência, moradores dessas áreas.

Ele disse em várias ocasiões que a época do "loteamento acabou" e que os postos de chefia seriam ocupados com base em currículo e experiência administrativa. "Indicações são bem vindas. O que não pode e o que não vai ter é dizer 'isso aqui sempre foi meu, aqui indico eu'. Indicava, cara pálida, acabou", afirmou em discurso na Fecomercio-SP, em dezembro passado.

APOIO

O tucano, porém, precisará do apoio dos vereadores para conseguir aprovar boa parte das promessas de campanha. As privatizações do complexo do Anhembi e do autódromo de Interlagos, entre outras, terão que passar pelo crivo deles, por exemplo. Também dependem de votação outros pontos ainda mais polêmicos cogitados pela equipe de Doria para aliviar as finanças, como a revisão da gratuidade a idosos abaixo de 65 anos e o fim dos cobradores nos ônibus.

Assim que assumiu em 2013, o então prefeito Fernando Haddad (PT) disse que só nomearia subprefeitos com nível universitário e que fossem engenheiros ou arquitetos concursados. No entanto, sob pressão de legendas aliadas, os 32 chefes de gabinete foram em sua maioria indicados de vereadores ou partidos. No terceiro ano de mandato, boa parte desses chefes foi alçada ao comando das regionais.

A gestão Doria afirma que a nomeação de integrantes da administração obedece a uma série de requisitos, entre eles, bom currículo, capacidade técnica, experiência administrativa, nível superior e proximidade com a comunidade local.

DEM E PMDB

Um dos novos chefes de gabinete é indicado do DEM, partido do novo presidente da Câmara, Milton Leite –principal puxador de votos de Doria no extremo zona sul da cidade, onde o PSDB costumava sofrer derrotas para o PT.

Chefe de gabinete de M'Boi Mirim, Silvio Ricardo Pereira dos Santos, já ocupou o mesmo cargo durante a gestão Gilberto Kassab (2006 a 2012). Na Lapa, o atual secretário estadual de Turismo, Laercio Benko, manteve seus indicados, assim como na gestão Haddad. Seu irmão, Leandro Benko será o chefe de gabinete ali.

Na Vila Mariana (zona sul), o novo chefe de gabinete é Luis Felipe Miyabara, que já ocupou o cargo na gestão Haddad. Ele é afilhado político do deputado estadual Jooji Hato, do PMDB. Indicados de vereadores tucanos também vão compor compor a direção das prefeituras regionais.

Filiado ao PSDB, Evandro Vinícius Gilio tem uma empresa de comunicação que prestou, em 2012, serviços à campanha de João Jorge (PSDB), eleito em 2016. Alguns dos chefes nomeados faziam assessoria para vereadores reeleitos até o último dia 16. Na Vila Prudente, assume as ex-assessora de Edir Salles (PSD). No Tucuruvi, o chefe será o ex-assessor de Conte Lopes (PP).

Até o PROS, que apoiou a candidatura de Haddad, mas também fará parte da base de apoio de Doria, emplacou um assistente de subprefeito. Apoiador do ex-tucano reeleito vereador pelo PROS Ricardo Teixeira, o novo chefe de gabinete da prefeitura da Mooca será Felipe Morrone.

A Folha apurou que as escolhas políticas nesses postos já estavam previstas na gestão como forma de acomodar aliados que perderam espaço nas secretarias, postos mais cobiçados. Nas últimas semanas, muitos deles fizeram fila no gabinete do secretário de Governo, Julio Semeghini, responsável pelas nomeações.

Dos 55 vereadores, apenas 11 (nove do PT e dois do PSOL) devem ficar permanentemente na oposição. Os demais devem fazer compor com o novo governo, embora possam oscilar em projetos polêmicos.

Matéria publicada na Folha de S. Paulo.
 

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