Usuários haviam migrado após megaoperação policial para combater tráfico na região, há um mês
Felipe Resk e Felipe Cordeiro, O Estado de S.Paulo
Após um mês concentrados na Praça Princesa Isabel, a "nova Cracolândia", na região central de São Paulo, os usuários de droga migraram na noite desta quarta-feira, 21, para as proximidades da Praça Júlio Prestes, a menos de 600 metros de distância e mais perto do "fluxo" original. Com usuários sobre a calçada, a concentração, que parece estar em menor número do que no local anterior, não bloqueia a Alameda Cleveland, na altura da Rua Helvétia.
Antes da megaoperação policial, em 21 de maio, o fluxo ficava na Alameda Dino Bueno, a uma quadra da Júlio Prestes. Dias depois, outra operação foi realizada na Praça Princesa Isabel, para remover barracas e tendas que haviam sido montadas no local.
Na noite da quarta, por volta das 22 horas, os usuários recolheram seus pertences e saíram da Princesa Isabel, que foi ocupada por equipes de limpeza da Prefeitura, além de viaturas da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e da Polícia Militar.
Foram até a Júlio Prestes a pé, área do antigo "fluxo", sem ser impedidos por policiais – ao contrário do que aconteceu nas operações, em que viaturas da GCM e da Cavalaria da PM bloquearam o acesso ao antigo quadrilátero da droga. Com eles, levaram colchões, cobertores e carroças.
Segundo policiais, a migração aconteceu de forma espontânea. "Pelo menos aqui não tem lama", disse um usuário, em referência ao lamaçal que ficava nos últimos dias na Princesa Isabel, após a limpeza realizada com água pela Prefeitura.
Um usuário, que se identificou apenas como Silva, disse que o grupo recebeu uma ordem para deixar a Princesa Isabel. "Deram um grito que era para todo mundo sair", afirmou. "A gente saiu de pouco em pouco, demorou para chegar todo mundo."
Usuário de crack e maconha, Silva está em abstinência desde a noite de quarta.
PCC
Investigações da Polícia Civil apontam a Cracolândia como um reduto do Primeiro Comando da Capital (PCC), que chegou até a negociar barracas por R$ 80 mil para venda de drogas. Na Princesa Isabel, com maior presença policial, o tráfico continuava, mas com menos volume. A principal modalidade é a "formiguinha", em que o usuário adquire algumas pedras de crack diretamente com o traficante.
Outras usuários disseram que a Princesa Isabel estava "complicada". "Estava violento, a polícia reprimia muito", afirmou um senhor. "Sem contar que a praça é um local histórico: não era para a gente estar ali."
Operações
Em 21 de maio, 900 policiais, entre civis e militares, participaram da operação na Cracolândia e prenderam 38 traficantes. A polícia desmontou as 34 barracas da feira de drogas que funcionava na área e comercializava 19 quilos de crack diariamente. Na ocasião, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), chegou a afirmar que não havia possibilidade de voltar "a Cracolândia na circunstância que havia anteriormente nessa região da Luz".
No mesmo dia, os usuários de droga se espalharam por vários pontos da região central e se estabeleceram na Praça Princesa Isabel.
Três semanas depois, o local foi alvo de outra operação policial com o objetivo de expulsar os dependentes químicos da região – que chegavam a 900 durante a noite -, retirar as tendas e barracas usadas pelo tráfico e tentar encaminhar os usuários para o tratamento. Algumas horas após a ação, no entanto, os usuários voltaram a ocupar a praça.
Uma das estratégias da Prefeitura para tentar retirar os dependentes químicos do local foi a instalação de um centro emergencial com contêineres em um estacionamento da Guarda Civil Metropolitana (GCM) na Rua General Couto de Magalhães, a 750 metros da Princesa Isabel.
Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.
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