EDUARDO GERAQUE – FOLHA DE S. PAULO
A gestão João Doria (PSDB) decidiu priorizar incentivos ao desenvolvimento urbanístico da cidade de São Paulo em direção à zona sul, entre as regiões da Berrini e do autódromo de Interlagos.
O projeto de lei que vai definir a intervenção batizada de Arco Jurubatuba está em elaboração na prefeitura para ser enviado à Câmara e prevê estimular a implantação nessa área de empreendimentos, moradias e infraestrutura urbana –incluindo a ampliação da marginal Pinheiros no sentido do autódromo.
Essa prioridade da gestão Doria, aliada ao arquivamento do chamado Arco Tietê, que previa a expansão nas imediações do rio Tietê, é motivo de preocupação entre especialistas em urbanismo. O Arco Jurubatuba tem 1.400 hectares disponíveis para edificação de imóveis e 150 mil habitantes –1,25% da população paulistana. Parte dos terrenos da área é pública e poderá ser vendida.
O projeto que será enviado aos vereadores é fortemente apoiado pelo presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), que tem sua base eleitoral na zona sul e se tornou um dos principais aliados de Doria.
SETORES
Pela proposta da prefeitura para indução do desenvolvimento urbanístico, a área foi dividida em seis setores.
No bairro da Vila Andrade, na região do Morumbi, as diretrizes do projeto preveem espaços de lazer (como praças e parques) e infraestrutura urbana (como sistema viário e equipamentos públicos) para tentar articular duas áreas contrastantes –uma, com favelas, e outra, com residências de alto padrão.
No centro de Santo Amaro, a proposta cita a necessidade de adensamento populacional, reforçada pela chegada do metrô. Nas proximidades da av. João Dias, a extensão do vetor de negócios.
Um dos principais alvos do plano é desenvolver a região do autódromo de Interlagos, prioridade de Doria em seus projetos de privatização e que pode contemplar até a construção de prédios no terreno.
Praticamente todo o rio Jurubatuba (extensão do Pinheiros) está dentro da área do projeto. Importantes mananciais da cidade, como as represas de Guarapiranga e da Billings, também ficam perto da região afetada.
PRINCIPAIS IDEIAS DA PREFEITURA, POR SETOR
1. Vila Andrade
Construir praças, sistema viário e equipamentos públicos para romper barreira entre prédios de alto padrão e favelas
2. Polo de negócios e turismo
Fazer melhorias viárias e transposição do rio, implantar espaços públicos e romper quadras grandes para ampliar construções
3. Santo Amaro
Melhorar espaços públicos e o acesso à já desenvolvida rede de transporte, para atrair mais gente e construções
4. Socorro
Expandir áreas comerciais para perto da represa e ampliar áreas verdes na parte mais urbana (largo do Socorro)
5. Av. Eng. Eusébio Stevaux e Marginal Pinheiros
Ampliar uso misto do terreno (com escritórios, lojas, residências etc.), que hoje abriga condomínios isolados
6. Autódromo de Interlagos
Privatizar o autódromo e redefinir seu papel para a cidade
PASSO A PASSO
– Texto da prefeitura passou por consulta pública
– Está sendo transformado em projeto de lei
– Será enviado para apreciação da Câmara
– Se aprovado, processos de licitação e mudanças devem começar
A ÁREA EM NÚMEROS
Tamanho: 21,6 km² (13% pública)
Moradores: 150 mil
Empregos: 135 mil
———————————-
DÉCADAS
Na prática, projetos urbanísticos específicos como este do Arco Jurubatuba determinam como vai ser construída parte da cidade em algumas décadas –e não especificamente no curto prazo.
No caso da ampliação da marginal Pinheiros até a região do autódromo, pelo lado esquerdo do rio, a gestão Doria prevê que isso ocorra junto com um parque linear, preservando o rio, com espaço para o transporte não motorizado e mais áreas verdes. Mas não há por enquanto um prazo para a intervenção.
Uma comissão de especialistas na gestão Haddad considerou mais benéfico que essa ampliação fosse feita sem a presença da pista para carros. Agora, porém, a prefeitura considera mais adequado que haja as duas intervenções de maneira simultânea.
Para o presidente do IAB/SP (Instituto de Arquitetos do Brasil), o problema do projeto divulgado pela gestão Doria é o que ele não diz.
"A avaliação do IAB é que a minuta é extremamente genérica, feita com diretrizes abstratas", afirma Fernando Túlio Franco, presidente do IAB/SP. "O texto não incorpora a complexidade da área e não é criterioso", afirma.
No caso da região de Jurubatuba, para ele, há itens ambientais, urbanísticos, habitacionais, sociais e de mobilidade urbana que precisam dialogar para que não se crie uma zona desigual.
"Qual é a conveniência, o interesse público, de desenvolver áreas como a Vila Andrade e o autódromo de Interlagos?", questiona.
O fato de a prefeitura priorizar o Arco Jurubatuba em detrimento do projeto de intervenção urbana para a marginal Tietê, arquivado em maio na Câmara a pedido da gestão Doria, é classificado como uma ação contraditória por Américo Sampaio, da Rede Nossa São Paulo.
"A justificativa da prefeitura para retirar o Arco Tietê não tem cabimento. O projeto foi amplamente debatido e está em concordância com o Plano Diretor", afirma.
A prefeitura diz que o projeto para a marginal Tietê foi retirado "a fim de realizar análises e avaliações criteriosas por causa da complexidade e do tamanho da intervenção proposta". O Arco Tietê abrange área de 5.180 hectares.
A gestão Doria informa que não há nenhuma contradição em retirar o Arco Tietê da Câmara e promover o avanço do Arco Jurubatuba, na zona sul. O projeto, depois de receber as sugestões públicas, vai ser readequado com os estudos de equipe técnica. O Executivo diz também que o plano em desenvolvimento segue as diretrizes propostas pelo Plano Diretor e as ações prioritárias no sistema viário estrutural da cidade.
Segundo a prefeitura, a expansão da marginal deve incorporar as características mais urbanas da via, em vez de um caráter rodoviário. O projeto deverá desenhar uma marginal vizinha ao Jurubatuba como uma ligação regional, com passeios amplos e ciclovia, diz a gestão Doria.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.