Relatório aponta 70,2 mil óbitos do tipo no País – 12,5% dos registros no mundo; taxa nacional subiu de 2015 para 2016
Jamil Chade, correspondente de O Estado de S. Paulo na Suíça
O Brasil teve, no ano passado, o maior número de mortes violentas do mundo. Foram 70,2 mil óbitos, o que equivale a 12,5% do total de registros em todo o planeta. O alerta faz parte de um informe divulgado pela entidade Small Arms Survey, referência mundial para a questão da violência armada. Em termos absolutos, a entidade aponta que a situação no Brasil supera a violência em Índia, Síria, Nigéria e Venezuela.
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Segundo Gergely Hideg, autor do estudo, o número inclui as estatísticas oficiais de homicídios – registradas pelos países -, mas também as mortes violentas não intencionais e mortes em intervenções legais. “O número é superior ao que as autoridades afirmam”, disse o pesquisador, cuja instituição é financiada pelo governo da Suíça. A entidade calcula que, no ano passado, 560 mil pessoas foram mortas no mundo de forma violenta. Isso representa um assassinato a cada minuto.
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O tamanho da população brasileira tem impacto nesses números. Mas, por si só, não explica a dimensão da violência. Hideg aponta três fatores que estariam levando ao cenário de mortes: a falta de garantia de direitos para parte da população, a cultura da violência e o crime organizado.
Se o Brasil lidera o ranking mundial em termos absolutos, é a Síria que tem o maior número de mortes por habitantes, seguida por El Salvador, Venezuela, Honduras e Afeganistão.
A taxa no Brasil subiu entre 2015 e o ano passado. Era de cerca de 26 para 100 mil habitantes e passou para cerca de 30. Além de estar acima do índice mundial, de 7,5, o aumento dos números brasileiros contraria a tendência de queda no mundo.
“Em cidades como o Rio, a violência de gangues, o uso excessivo da força pelo Estado, um sistema de Justiça criminal corrupto, a militarização de certas áreas e o acúmulo social de violência – em que a violência gera mais violência – é o que marca as taxas extremamente elevadas”, diz o estudo.
Outra constatação do levantamento é a de que o Brasil tem o terceiro maior número de mortes de mulheres no mundo. Foram 5,7 mil em 2016 – o País só fica atrás de Índia e Nigéria.
Projeção
Se essa realidade não mudar, a entidade estima que, até 2030, 610 mil pessoas serão mortas de forma violenta no mundo a cada ano. O estudo calcula que 1,35 milhão de vidas poderiam ser salvas até 2030, se os governos reconhecessem a dimensão do problema.
Para Ivan Marques, diretor executivo do Instituto Sou da Paz, a quantidade de casos no País mostra a complexidade do problema. “A política de segurança pública precisa ser desenhada atendendo às particularidades de cada região, para respeitar as diferentes dinâmicas criminais.”Questões como homicídios não esclarecidos e o modelo brasileiro de polícia, diz ele, ainda são entraves para a melhora nos indicadores.
"O Brasil tem números (de mortes) maiores até do que países em guerra."
Ivan Marques, diretor do Instituto Sou da Paz
Procurado na noite desta quinta-feira, 7, o Ministério da Justiça não se manifestou até as 21 horas. / COLABOROU JÚLIA MARQUES
Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.
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