“É impossível mudar as instituições públicas em São Paulo, enquanto dois terços dos eleitores não lembrarem em quem votou nas últimas eleições”, avalia o professor Fernando Abrucio
Por Airton Goes, da Rede Nossa São Paulo
Um dos resultados da pesquisa “Qualidade de Vida”, que foi divulgada nesta quarta-feira (23/1), chamou a atenção do professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fernando Abrucio: 64% da população paulistana não lembra em quem votou para vereador em 2016, 34% se recorda e 2% não sabe ou não respondeu.
“É impossível mudar as instituições públicas em São Paulo, enquanto dois terços dos eleitores não lembrarem em quem votou nas últimas eleições”, disparou o professor no debate realizado na sequência da apresentação dos dados do levantamento.
Promovido pela Rede Nossa São Paulo e Ibope Inteligência, em pareceria com o Sesc São Paulo, o evento contou com as participações do presidente do Tribunal de Contas do Município (TCM), João Antonio, e da cientista política e pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (ISER), Ana Carolina Evangelista.
Além de destacar a importância do voto como instrumento de mudança, Fernando Abrucio, que também é comentarista da Rádio CBN, defendeu a necessidade de melhorar a qualidade das políticas públicas. “Se a gente quer ter uma boa sociedade, tem que ter bons serviços públicos”, argumentou.
E para que isso ocorra, segundo ele, a administração municipal precisa olhar o que está sendo feito, e dando certo, em outros lugares do mundo. “Se a gente não melhorar as políticas públicas, em saúde e educação, por exemplo, a população irá para o populismo mesmo”, alertou o professor.
Os resultados da pesquisa “Qualidade de Vida” mostram que 56% da população considera a atuação da administração municipal na saúde “ruim ou péssima”. Apenas 7% dizem que é “boa ou ótima”, enquanto 34% assinala “regular”.
Além disso, a percepção dos pesquisados é que o tempo de espera por consultas, exames e cirurgias na rede pública de saúde aumentou em relação ao levantamento anterior.
A educação, também registra avaliação negativa: 51% dos paulistanos dizem que a atuação da administração municipal nessa área é “ruim ou péssima”, 33% consideram “regular” e apenas 13% assinalam “ótima ou boa”.
Confira aqui a apresentação da pesquisa “Qualidade de Vida”.
Veja a pesquisa completa, com todas as tabelas.
A outra participante do debate, Ana Carolina Evangelista, fez uma análise de um dos itens do perfil da amostra, segundo o qual: 40% dos entrevistados afirmam ser católicos, 24% se dizem evangélicos ou protestantes, 24% ateus ou não responderam e 13% são de outras religiões.
Pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (ISER), ela ressaltou o crescimento da população evangélica e pentecostal no Brasil e previu que, em 2025, haverá uma inversão, ou seja, o país terá mais evangélicos do que católicos.
Ana Carolina explicou que a população evangélica é muito heterogênica, as igrejas são diversas e nem todas são conservadoras. Em sua avaliação, é fundamental olhar o mundo evangélico com menos estigma e generalizações. “Precisamos produzir mais informações sobre o mundo evangélico, conhecer suas nuances, para poder dialogar com essa população”, ponderou.
Jorge Abrahão, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Marcia Cavallari, CEO do Ibope Inteligência, e João Antonio, presidente do Tribunal de Contas do Município, durante o evento (fotos: Assessoria de Comunicação do TCM-SP)
O debate foi mediado pelo coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão, e a apresentação da pesquisa realizada pela CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari.
Abrahão antecipou que a Rede Nossa São Paulo irá divulgar 16 pesquisas e estudos este ano, em 12 eventos, pois quatro deles serão lançados virtualmente.
Para ele, as cidades têm um papel importante no momento atual, para que se possa avançar e oferecer melhor qualidade de vida às pessoas. “A Constituição Federal garante a autonomia dos municípios”, registrou.
Durante o evento, realizado no Sesc Bom Retiro, houve intervenção cultural do grupo Menor Slam do Mundo, que promoveu uma competição de poesias de até 10 segundos.
Visão do Tribunal de Contas do Município
Em sua exposição, o presidente do Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCM-SP), João Antonio, informou que o orçamento previsto para a capital paulista em 2019 é de aproximadamente R$ 60 bilhões, sendo que 31% desse orçamento deve ser investido obrigatoriamente em educação. “A saúde também é verba carimbada, pois 15% da verba orçamentária tem que ser aplicado obrigatoriamente nessa área”, complementou ele.
De acordo com João Antonio, “a capacidade de investimento da cidade não chega a R$ 3 bilhões por ano”, enquanto 37% dos recursos são destinados ao funcionalismo público. “Isso porque não estão sendo considerado os funcionários de instituições que recebem recursos da Prefeitura”, ressaltou.
O presidente do TCM-SP considera que a descentralização administrativa da cidade seria fundamental para uma gestão eficiente dos serviços públicos. “Uma cidade do tamanho de São Paulo não poder ser administrada do Viaduto do Chá”, opinou.
Por fim, ele reconheceu que o Tribunal de Contas do Município precisa melhorar para cumprir o seu papel, afirmando que o órgão está aberto à sociedade. “O TCM só tem razão de ser se tiver em sintonia com a sociedade”, concluiu.
Leia também:
Paulistano atribui nota 6,3 para qualidade de vida na cidade
Análise da pesquisa “Qualidade de Vida”
Confira a repercussão na mídia:
6 em cada 10 paulistanos ainda querem deixar São Paulo, diz pesquisa (Metro Jornal)
Metrô de SP é instituição melhor avaliada pelos paulistanos (Diário do Transporte)
Pela 1ª vez desde 2013, volta a crescer nível de confiança nas instituições em SP (Isto É Dinheiro)
O paulistano voltou a confiar nas instituições (Diário do Comércio)
Pela 1ª vez desde 2013, volta a crescer nível de confiança nas instituições em SP (UOL)