A segunda edição do Mapa da Desigualdade da Primeira Infância foi lançada em evento realizado no dia 12, no Sesc Bom Retiro. Durante a abertura, Jorge Abrahão, coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, afirmou que “atacar a questão da desigualdade é enfrentar um problema sistêmico”. Jorge enfatizou, também, que “estamos em uma cidade rica e que teria recursos para enfrentar isso. É uma questão de ter coragem, de ter prioridades, para investir efetivamente na redução das desigualdades”.
Porém, ele também enfatizou avanços na área da primeira infância na cidade de São Paulo. “Caminhamos bastante nesse tema no ano passado. Foi aprovado o Plano Municipal da Primeira Infância. O trabalho da sociedade civil aparece com tanta importância nesse processo e deve ser valorizado”.
Já Cláudia Vidigal, da Fundação Bernard van Leer, falou sobre “os três argumentos” para a defesa de uma priorização da primeira infância. O primeiro é o da ciência que, segundo ela, foi fortalecido “quando a neurociência entra em cena” e comprova que toda “a arquitetura cerebral é formada nos primeiros anos de vida. Isso fez com que mais tivesse mais lideranças investindo e se comprometendo com a primeira infância ao redor do mundo e no Brasil”.
O segundo argumento é econômico: “o investimento que a gente faz na primeira infância dura mais, o resultado é mais prolongado”. Por último, Cláudia destaca o argumento da equidade, “se já começamos a vida pautados na desigualdade, temos muito mais chance de ampliar essa desigualdade”.
O evento
O evento teve quatro momentos, começando com a apresentação Práticas inspiradoras para uma cidade amiga da criança, feita por Fernanda Vidigal, da Fundação Bernard van Leer. Em seguida, Carolina La Terza, assessora de projetos da Rede Nossa São Paulo, apresentou o Mapa da Desigualdade da Primeira Infância 2020.
O Mapa tem como objetivo fortalecer o debate sobre o tema e incidir sobre as políticas públicas voltadas para os direitos fundamentais das crianças. O levantamento reúne 26 indicadores municipais, relacionados a temas fundamentais para o bem-estar e qualidade de vida de crianças de zero a seis anos de idade.
Os dados são aplicados aos 96 distritos de São Paulo, possibilitando, assim, identificar as diferenças territoriais da cidade.
Um dos destaques que a edição de 2020 do Mapa traz é na mortalidade infantil, que é 23 vezes maior em Marsilac do que em Perdizes. Outro dado que chama a atenção é o tempo de atendimento para vaga em creche, que chega a 260,9 dias na Vila Andrade. Acesse a apresentação do Mapa da Desigualdade da Primeira Infância e saiba mais.
No terceiro momento, Marisa Villi, da Rede de Conhecimento Social, falou sobre as oficinas realizadas no final de 2019, Olhar das crianças – Brasilândia e Cidade Tiradentes. A partir dos conteúdos apresentados, Alexis Vargas, secretário executivo de Gestão de Projetos Estratégicos na Prefeitura Municipal de São Paulo, Ana Carolina Jacob, da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e Marisa realizaram um painel de conversa.
Por fim, com mediação de Cláudia Vidigal, da Fundação Bernard van Leer, Paula Mendonça, do Instituto Alana e Maria Paula de Albuquerque, do Cren, falaram sobre o desenvolvimento integral das crianças na cidade.
Maria Paula, que atua com segurança alimentar e nutricional, destacou a importância de termos dados de peso e de estatura. “Comunidade com elevada prevalência de baixa estatura por causa nutricional é uma comunidade bastante desigual”, afirmou. “Sabemos que crianças com prejuízo no crescimento linear, não estamos ceifando somente centímetros. Estamos ceifando desenvolvimento cognitivo, oportunidades no mercado de trabalho futuro, anos de escolaridade e aumentando muitíssimo a chance dessa criança se tornar um adulto doente, com doenças crônicas não transmissíveis”, explicou.
Já Paula Mendonça apresentou o programa “Criança e Natureza”, do Instituto Alana, e afirmou que as crianças “passam cerca de 90% do tempo emparedados”. Assim, Paula enfatizou aspectos relevantes que tornam uma “cidade amigável à infância”, para que seja favorecido um “desemparedamento da infância”.
Mais sobre o Mapa:
Realizado em parceria com a Fundação Bernard van Leer, o Mapa da Desigualdade da Primeira Infância teve sua primeira edição lançada em 2017. Os 26 indicadores foram selecionados a partir do Programa Cidades Sustentáveis e estão associados aos eixos do Urban95, uma iniciativa da Fundação Bernard van Leer, e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), das Nações Unidas.
As informações são atualizadas periodicamente no Observatório da Primeira Infância, ferramenta lançada em 2017, com o intuito de monitorar os indicadores.
Confira a apresentação do Mapa da Desigualdade da Primeira Infância 2020
Confira o Mapa da Desigualdade da Primeira Infância 2020 completo
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