Poluição do ar e aquecimento global serão o maior problema de saúde pública no século 21, diz pesquisador
A poluição do ar e o aquecimento global vão ser o maior problema de saúde pública no século 21 na avaliação de cientistas que se reuniram em Copenhage (Dinamarca) recentemente, conforme informou Paulo Saldiva, coordenador de pesquisas sobre o tema pela Faculdade de Medicina da USP. “A cada redução de 10 microgramas de material particulado fino no ar, ocorre o aumento de 8 a 10 meses de vida na poluição”, disse Saldiva.
De tão importante, o tema passou a fazer parte das agendas das entidades que reúnem profissionais de saúde em todo o mundo, inclusive da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que, a partir do ano que vem, no dia 5 de junho, Dia do Meio Ambiente, fará campanha de conscientização sobre os riscos da poluição para as doenças cardiovasculares.
Os veículos automotores são responsáveis por 62% das emissões de poluentes no ar, de maneira geral nas cidades, mas em São Paulo geram 90% da poluição na atmosfera, explica Hélio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. E quanto mais carros nas ruas, menor a velocidade de locomoção. Na hora de pico, a velocidade média dos veículos é de 9,7km por hora – a pé, é de 5 km por hora, explicou Mattar. “Estamos poluindo sem ganhar mobilidade”, destacou Saldiva.
Saldiva, Mattar e o presidente da SBC, Antonio Carlos Palandri Chagas participaram do Seminário “O Impacto da Poluição na Saúde Pública”, que também contou com a presença de Claudio Alonso (CETESB), Vera Lucia Anacleto Cardoso Alegro (Secretaria Municipal de Saúde), Alfred Szwarc (ADS tecnologia e desenvolvimento sustentável), Lisa Gunn (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – Idec), José Eduardo Ismael Lutti (Promotoria de Justiça do Meio Ambiente da Capital) e Eduardo Jorge Sobrinho(Secretário municipal do Verde e Meio Ambiente). O evento ocorreu nesta segunda (21/9), no teatro da Faculdade de Medicina da USP, como uma das atividades do Dia Mundial Sem carro.
Para o promotor Lutti, a situação da poluição do ar provocada pelos veículos chegou a esse ponto devido à omissão dos poderes Executivo e Legislativo e do Ministério Público Federal. Lutti se referiu principalmente ao acordo que adiou o cumprimento da resolução 315 do Conama por até cinco anos – que previa a redução do teor de enxofre no diesel brasileiro desde janeiro deste ano. O acordo foi mediado pela procuradora federal Ana Cristina Bandeira Lins. Para Lutti, as empresas montadoras (como qualquer empresa) também têm a responsabilidade de preservar o meio ambiente, como está previsto na Constituição.
De acordo com a representante da Secretaria Municipal de Saúde, Vera Lucia Anacleto Cardoso Alegro, as taxas de mortes e de internação hospitalar são significativas nas regiões do Estado em que há maior poluição do ar, que coincidem com as áreas onde é maior o índice de desenvolvimento urbano. Isso “nos faz pensar que o desenvolvimento não é tão sustentável e deve ser reavaliado”, comentou.
Para buscar soluções a este modelo, é que Idec realizou um estudo e uma campanha em que faz recomendações ao poder público, privado e ao consumidor, apresentado por Lisa Gunn. Durante o evento, Lisa também apresentou a Campanha Tic Tac, para mobilizar a sociedade a chamar a atenção das autoridades sobre as medidas urgentes para evitar o aquecimento global.
Além da poluição do ar, os veículos também são os principais causadores da poluição sonora nas grandes cidades, de acordo com Alfred Szwarc, da consultoria ADS Tecnologia e Desenvolvimento Sustentável. E o nível de ruído só vem aumentando, embora haja resolução do Conama de 2000 que coloca limites nos carros novos. Mas não há avaliação dos resultados da resolução, explicou Szwarc. Alfred Szwarc (ADS tecnologia e desenvolvimento sustentável),
O secretário do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge Sobrinho, defendeu a inspeção veicular , que seja obrigatória em todo o Brasil, e o pedágio urbano em São Paulo como forma de reduzir as emissões de poluentes. No caso, do pedágio urbano, disse que era uma posição pessoal, já que o prefeito Gilberto Kassab é contra. Sobrinho argumentou que seria uma forma de gerar recursos para ampliar o investimento no transporte coletivo, baseado no princípio do “poluidor-pagador”, ou seja quem polui (os usuários de veículos) pagaria o pedágio que financiaria o sistema de transporte público.
Para o seminário, também foram convidadas a Petrobrás as empresas Ford, Mercedes, Scania, Volvo, Volks e Fiat, mas responderam que não iriam comparecer e não enviaram representantes. A Fiat enviou uma carta que foi lida no evento, na qual se posiciona contra a comercialização de veículos de passeio movidos a diesel.
Durante o seminário também foi anunciado que a Anfavea se comprometeu em iniciar um debate público com o Movimento Nossa São Paulo e o Instituto Ethos sobre a nova matriz energética sustentável do setor automobilístico.