São Paulo precisa de um plano de mobilidade que privilegie o transporte público

 

Proposta foi defendida por participantes de seminário sobre tema. Encontro debateu também o problema da ocupação do solo na cidade

“Temos que privilegiar o ônibus no sistema viário. E a palavra correta é privilegiar o ônibus e não apenas priorizar”, enfatizou o consultor de transportes Horácio Figueira no seminário “Os desafios da mobilidade na cidade de São Paulo: avaliação e indicadores”. Figueira sintetizou uma ideia central defendida por outros participantes do evento, realizado nesta segunda-feira (10/5) na Câmara Municipal: que o município tenha um plano de mobilidade que privilegie o transporte público.

Os debatedores apresentaram diagnósticos sobre o problema do trânsito da cidade e algumas propostas de ações para melhorar a mobilidade dos moradores. Figueira, por exemplo, defendeu a instalação de duas faixas exclusivas para ônibus em avenidas que tenham três ou mais vias de rolamento, além de semáforos sincronizados. Confira a apresentação de Horácio Figueira

Ailton Brasiliense Pires, presidente da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP), relatou aos participantes que até 1950 a lógica de ocupação do solo na cidade facilitava os deslocamentos das pessoas. “A maioria das viagens entre a moradia e o trabalho era feita a pé e a média de deslocamento era de cinco quilômetros.”

Entretanto, segundo ele, a partir daí São Paulo cresceu de outra forma. “Hoje, a média de deslocamento das pessoas é de 20 quilômetros”, comparou. Os moradores foram empurrados para a periferia da cidade e têm que percorrer distâncias cada vez maiores para ir ao trabalho. “A questão da densidade de emprego por região tem que ser revista”, ponderou. Pires avalia que os trabalhadores perderam com esta mudança na lógica de ocupação do solo. “Quem ganhou foram o setor imobiliário e as empresas de ônibus, que cobram um preço alto nas passagens.”

O presidente da ANTP sugere que a cidade deveria ser reconstruída, ocupando melhor o entorno dos grandes corredores de transportes (ônibus, trem e metrô). Porém, enquanto isto não ocorre, ele propõe que o estado e o município invistam pesadamente no transporte público, “que precisa ter confiabilidade, segurança, rapidez e preço mais acessível”.

Cícero Yagi, que representou o Movimento Nossa São Paulo no seminário, foi outro palestrante que se preocupou com a forma de ocupação da cidade. “Tem regiões da área central do município que estão perdendo população. Ao mesmo tempo, as bordas da cidade, onde não tem emprego, estão ganhando moradores”, explicou.

De acordo com os dados apresentados por Yagi, entre 2000 e 2008, o distrito do Grajaú, situado no extremo sul da cidade, ganhou mais de 101 mil habitantes, enquanto Santana, que fica em uma região mais próxima ao centro e tem toda infraestrutura urbana, perdeu quase 15 mil moradores. “Basta verificar isto, para perceber que, se nada for feito, a situação do transporte vai piorar, pois vai aumentar o número de viagens necessárias.” Confira a apresentação de Cícero Yagi

O representante da Prefeitura no debate – Luis Carlos Mota Gregório, chefe do Departamento de Logística e Tráfego da Companhia de Engenharia e Trafego (CET) – apresentou diversos dados sobre o trânsito de São Paulo. “A frota de veículos registrados da cidade é de 6 milhões e 733 mil, o que dá uma média de 1,72 habitante por veículo.”

Gregório também relatou algumas ações do poder público para reduzir os congestionamentos, entre os quais a ampliação do sistema viário, exemplificada pela obra de ampliação de faixas na Marginal Tietê. Confira a exposiçao de Luis Gregório

Após a exposição dos palestrantes, diversos cidadãos e representantes de entidades da sociedade civil puderam apresentar sugestões e fazer questionamentos aos debatedores. Cerca de 120 pessoas participaram do seminário, que foi mediado pelo vereador Senival Moura (PT).

Próximo debate sobre mobilidade e transportes sustentáveis será dia 7 de junho

O evento foi o primeiro de uma série de cinco seminários que estão sendo realizados em parceria pelo Movimento Nossa São Paulo e a Comissão de Transporte da Câmara Municipal, presidida pelo vereador Juscelino Gadelha (PSDB).

Maurício Broinizi, coordenador da secretaria executiva do Movimento Nossa São Paulo, e Gadelha informaram, na abertura do seminário, que o próximo terá como tema “Saúde e Mobilidade Urbana” e ocorrerá no dia 7 de junho. “Queremos que a sociedade civil e o Legislativo debatam este tema, que é tão importante para a cidade”, afirmou o vereador. “O objetivo é ao longo dos cinco debates construirmos uma proposta de Plano Municipal de Mobilidade e Transportes Sustentáveis”, completou Broinizi.      

REPORTAGEM: AIRTON GOES airton@isps.org.br

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